domingo, 26 de junho de 2011

Semi clássico, um pouco do que eu precisava.

Toda preparação de uma artista prestes a entrar em cena, toda a maquiagem, todo o penteado, o nervosismo, a constância. Tudo o que se precisa fazer, pra dar o melhor show e agradar ao público de alguma forma, estava sendo feito. O nervosismo era tão grande que eu roia as unhas de uma forma desesperada, enquanto olhavam pra mim com olhares de censura, esperando uma atitude mais profissional. A maquiagem ficara perfeita, todos elogiaram o artista, não o chamo mais de maquiador, o artista que havia transformado meu rosto em obra de arte. Eu suava, suava com o nervosismo invadindo meu corpo, os batimentos do meu coração acelerados, eu suara tanto, que estava estragando parte do que um gênio havia demorado horas pra construir. Andava em círculos, com o cabelo cheio de laquê, cheio de brilho, em ondas quase perfeitas, porém, estava conseguindo estragar isto também, com o suor, que estava deixando meu cabelo oleoso e pegajoso.
Estava tudo pronto, eu estava semi acabada, porém, era semi pronta que eu deveria estar pensando que estava, estava nervosa, mas era minha vez, tinha que ir lá fora, tinha que encarar as pessoas que tinham ido ali para me ver, tinha que lhes dizer algo, fazer alguma coisa, eu precisava de coragem.
Entrei em cena, meus lábios tremiam, minha mão suava, meus olhos encaravam o chão, com muito esforço, olhei meu público, vi suas caras, uns com raiva, outros tristes, uns estavam rindo entre si, e alguns dormiam. Voltei meus olhos para o chão, entre lábios semi serrados, consigo dizer entre lágrimas brotando dos olhos um quase inaudível “desculpa”.
Sai correndo, como se o mundo estivesse desabando embaixo dos meus pés, eu não conseguia enxergar a noite na minha frente, as lágrimas tampavam tudo que aparecia, tropecei. Cai com o rosto no chão, um rosto que parecia estar derretendo, uma mistura de roxo com preto e uma sensação de tragédia estampada na minha feição. Consegui ralar meus joelhos e meus cotovelos, naquela hora, eu era a aberração do mundo, não era mais uma sensação, eu era a aberração, com o vestido caro em cor lilás, detalhes em forma de estrela, o que eu tinha agora era um vestido rasgado, sujo e molhado. Nessa hora eu já não usava mais sapatos, estava com a meia calça rasgada até metade da minha coxa.
Não sei explicar direito o que aconteceu depois disso, só sei que acabei em um boteco de beira de rodovia, bebia como se fosse a única coisa no mundo que eu poderia fazer, copos e mais copos de cachaça, foi-se a classe, foi-se a menina bonita no show. O meu show agora era no boteco, meu show era fazer aquelas pessoas bêbadas rirem de mim, porque era só isso que conseguiam fazer, quando eu tentava me levantar do banco em frente ao balcão do qual eu me encontrava. Meu amigo, que me servira todas as doses no bar, rira mais que todos, e eu imaginava que ele havia entendido todo meu drama, ouvi ele contando partes da minha história, como se fosse uma dose que ele servira pra alguém.
Resolvi sair dali também, nem no bar eu conseguira mudar o curso da noite, voltei para casa, tentando não cair novamente no caminho, querendo que minha pernas bambas ficassem firmes como nunca haviam ficado na vida.
Abri a porta de casa, devagar, para não acordar ninguém, esperando a paz e a tranqüilidade que aquele lugar me proporcionava. Vi pessoas acordadas e sai correndo para o banheiro, me joguei no Box, liguei o chuveiro e sentei  no chão, fiquei assim por horas, até ouvir uma batida na porta “tudo bem aí?”, “sim” menti descaradamente, tentando esconder a vergonha e humilhação.
Sai do banheiro, fui ao meu quarto,  cai na cama, olhei para as estrelas no teto do meu quarto, esperei que elas me aplaudissem, que elas achassem bonito o meu show de desespero e falta de confiança, isso não aconteceu, elas me olhavam com pena, esperando que eu chorasse novamente, que eu caísse ou que eu saísse correndo, novamente.
Fiquei deitada, ignorando as estrelas e tentando fazer com que o sono chegasse rápido.
Dormi, profundamente, tranquilamente, como não fazia a anos, meus sonhos foram agradáveis e eu tinha nesse mundo paralelo dos sonhos, tudo que eu não conseguira na noite anterior, calma, tranqüilidade, confiança e segurança.
Quando acordei, me sentia feliz, me sentia confiante, eu era a pessoa do sonho, me convenci disso, eu tinha representado meu papel perfeitamente na noite anterior, e fora aplaudida pela platéia de forma singular, tudo não passara de um sonho ruim, inverti a realidade e o sonho, estava tentando ao menos, quando uma batida na porta, corta tudo que eu estava me convencendo que era verdade, e a realidade, bateu ali, de forma grosseira e maldosa.
Abri a porta, eram flores, nelas estava preso um cartão lilás, da cor do vestido que eu usara na noite anterior, dizia “4 horas no parque”, não tinha assinatura, mas eu sabia de quem era, não tinha assunto mas eu sabia do que se tratava, depois de tudo que eu passei, era só daquilo que eu precisava.
Não precisei trocar a realidade por uma mentira, só aquelas flores, já recuperaram todo meu bom humor, toda minha felicidade voltou, meu rosto estava corado, eu não precisava daquele sucesso, tudo que eu queria, aquelas flores me trouxeram.

Nenhum comentário:

Postar um comentário